3 de jun. de 2011

CONHECENDO GEORGE BERKELEY - PARTE 2

SUBSTÂNCIA

Para Berkeley a substância ou matéria, assim como é confusamente apresentada na filosofia de maneira geral, é inteligível, inconcebível, e, é a própria inpercepção dessa substância que a torna inexistente, pois daquilo que não consigo perceber (que significa ter a idéia mesma de algo), não posso formar nenhuma idéia. Quanto à imprecisão da definição de substância material na filosofia ele diz:
17. Se pesquisarmos o que os filósofos mais precisos declaram que entendem por substância (substratum) material, descobriremos que, segundo eles mesmos reconhecem, não tem mais significado para essas palavras que a idéia de ser em geral, com a noção relativa de estar dando suporte aos acidentes. A idéia geral de ser, parece-me a mais abstrata e incompreensível de todas; e quanto ao dar suporte aos acidentes, isto é algo que, como acabo de observar, não se pode entender no sentido usual dessas palavras. Deve-se, pois, tomar em algum outro sentido; mas não explicam qual deveria ser este. De maneira que, quando considero as duas partes ou ramos que compõe o significado das palavras substância material, convenço-me de que não há um significado claro e diferente agregado a elas. (Berkeley, Princípios do Conhecimento Humano)
É fundamental para Berkeley demonstrar a falibilidade da crença tradicional filosófica na substância e na abstração dos universais, pois, é na investigação primeira destas noções errôneas que são lançadas as bases para o seu imaterialismo. Vejamos:
9. Há quem faça uma distinção entre qualidades primárias e secundárias. Pelo primeiro eles significam extensão, figura, movimento, repouso, solidez ou impenetrabilidade, e número, por este último que denotam todas as outras qualidades sensíveis, como cores, sons, sabores, e assim por diante. As idéias que temos destas não reconhecem ser as semelhanças de qualquer coisa existente fora da mente, ou despercebido, mas eles vão ter nossas idéias das qualidades primárias a padrões ou imagens de coisas que existem sem a mente, numa substância irrefletida que chamamos matéria. Pela matéria, portanto, estamos a compreender um material inerte, substância sem sentido, em que extensão, forma e movimento realmente subsiste. Mas é evidente a partir do que já temos demonstrado, que a extensão, figura e movimento são apenas idéias existentes na mente, e que uma idéia pode ser nada, mas como uma outra idéia, e que, consequentemente, nem eles nem seus arquétipos pode existir em uma impercepcionante substância. Por isso, é claro que a própria noção do que é chamado matéria ou substância corpórea, envolve uma contradição nisso. (Berkeley, Princípios do Conhecimento Humano).
O lugar no qual todas as qualidades estão é a mente, as idéias não existem sem a mente, fora da mente nada poderá ser diferente de como é para nós “pois ter uma idéia é o mesmo que perceber”, assim, a percepção é a própria formulação da idéia, sua atividade ou ação na mente. Berkeley contesta a existência de qualquer substância não pensante como se apresentou até então, ou seja, para alguns as qualidades ou acidentes subsistiriam em alguma coisa inerte e sem sentido, algo que não se pode saber o que é pelos sentidos, é algo ao qual não temos acesso algum.
PRÓXIMOS TÓPICOS:

3. A MENTE
4. É POSSÍVEL APRIORISMO(Proposto na CRP por Kant) EM BERKELEY?
4.1. ESPAÇO E 4.2. TEMPO

CONHECENDO GEORGE BERKELEY - PARTE 1

IDEALISMO SUBJETIVO E IMATERIALISMO

A máxima de Berkeley é: "ser é ser percebido" (esse est percipi ou to be is to be perceived). Para Berkeley a existência está diretamente ligada a percepção ou ao que dela podemos perceber.
Berkeley é o elemento simplificador em toda a história da teoria do conhecimento, por possibilitar uma rápida assimilação de seu pensamento, além de seus conceitos serem mais coerentes com os elementos dados. Sua simplicidade faz das muitas letras filosóficas que surgiram antes e depois dele parecerem areias soltas ao vento, pois nele encontramos o resumo daquilo que se pode melhor entender acerca do entendimento humano.
Para ele, existe apenas a mente e as idéias. Todas as coisas que compõem o mundo, a natureza, só têm “substância” em nosso espírito. Objeto sensível para ele não é um elemento causador exterior absolutamente existente (ainda que não negue a existência das coisas), mas serão as próprias idéias por ele produzidas. Tais idéias são impostas sobre uma suposta existência exterior. Nossas idéias são o efeito de causas exteriores as quais são desconhecidas para nós, porém o efeito de nossas idéias nada impede que delas façamos juízos verdadeiros. Não há nada que nos garanta como as coisas realmente são em sua essência, uma vez provocadas em nossas sensações, a nossa mente constrói as idéias por relação, mas, não temos acesso as coisas, ao objeto em si. Toda e qualquer formulação das idéias partirá da relação objeto – sensações – mente.

11 Os objetos dos sentidos, sendo coisas imediatamente percebidas, são alternativamente chamados idéias. A causa dessas idéias, ou o poder que as produz, não é o objeto dos sentidos, dado que não é ela própria percebida, mas apenas inferida pela razão a partir de seus efeitos, a saber, os objetos ou idéias percebidos pelos sentidos. De nossas idéias dos sentidos é correto inferir um Poder, Causa ou Agente; mas não podemos daí inferir que nossas idéias sejam semelhantes a esse Poder, Causa ou Ser ativo. Ao contrário, parece evidente que uma idéia só pode ser semelhante a outra idéia, e que em nossas idéias ou objetos imediatos dos sentidos não se inclui nada referente a poder, causalidade ou agência. (A TEORIA DA VISÃO CONFIRMADA E EXPLICADA)

13 Idéias que observamos estarem conjugadas são vulgarmente consideradas sob a relação de causa e efeito, embora a estrita verdade filosófica seja que elas se relacionam apenas como o signo à coisa significada. Pois conhecemos nossas idéias e sabemos, portanto, que uma idéia não pode ser causa de outra. Sabemos que nossas idéias dos sentidos não são a causa de si próprias. Sabemos também que nós não as causamos. Conseqüentemente, sabemos que elas devem ter alguma outra causa eficiente, distinta delas próprias e de nós.(Berkeley. A TEORIA DA VISÃO CONFIRMADA E EXPLICADA).

DICA DE FILME

MÃOS TALENTOSAS - é um filme extraordinário para quem deseja seguir carreira em medicina, mas além de apresentar essa profissão brilhante, o filme mostra um verdadeiro exemplo de superação numa história emocionante. É uma grande lição de vida para todos nós. Vale a pena conferir!